Quais são os riscos dos agrotóxicos?
Nosso colunista e nutricionista, Leonardo Soares, fala sobre o uso de pesticidas no Brasil e seus malefícios
14 de agosto de 2023 - às 16h09 (atualizado em 19/8/2023, às 12h33)
Envato
Escrito por
Leonardo Soares
Nutricionista - CRN 3 - 65923
O uso de agrotóxicos nas plantações tem o objetivo de garantir o cultivo. A Organização Mundial da Saúde e a Organização para Agricultura e Alimentação definiram pesticidas (agrotóxicos) como: qualquer substância ou mistura de substâncias destinada a repelir, destruir ou controlar qualquer praga durante ou que interfira na produção, processamento, armazenamento ou comercialização de alimentos.
Um pesticida ideal deve realizar o trabalho de controlar as pragas e depois se degradar sozinho. Porém, depois de pulverizar as plantas, os resíduos podem se manter presentes e gerar prejuízos para a saúde humana. Cerca de 30% das perdas na produção de alimentos acontecem por ação de pragas.
O Brasil é considerado, desde 2008, o país que mais consome agrotóxicos no mundo. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o consumo de alimentos que contêm resíduos de agrotóxicos gira em torno de 15%.
O primeiro movimento ambiental contra os agrotóxicos aconteceu por conta da escritora e bióloga marinha americana, Rachel Carson. Após esse movimento, foi visto uma queda no uso de agrotóxicos em 1970, que em conjunto também teve a proibição de princípios ativos dos pesticidas com grande capacidade de causar câncer.
Alguns pesticidas já têm comprovações de sua ação sobre a saúde humana. Por exemplo, o Dieldrin é um produto amplamente usado como inseticida e está associado a apoptose neural (morte dos neurônios).
Esses efeitos no sistema nervoso dos pesticidas nos mamíferos não ocorrem a curto prazo, mas sim a um longo prazo de exposição a esses produtos.
Porém, o risco não se limita só ao consumo dos produtos, mas também à exposição ocupacional. É muito importante que os produtores e trabalhadores que manipulam esses produtos estejam protegidos e informados sobre regulamentações e padrões de saúde ocupacional controlados para manter a sua integridade.
Mulheres em período gestacional trabalhando na agricultura estão expondo o seu bebê a diversos riscos, por exemplo, aborto espontâneo, parto prematuro, retardo no crescimento intrauterino, entre outras consequências. Só o fato de os pais terem uma exposição ocupacional aos agrotóxicos antes da concepção já pode aumentar os riscos de complicações no desenvolvimento do feto.
Além disso, os agrotóxicos têm uma ação negativa no desenvolvimento de crianças quando expostas no início da vida. Um trabalho feito em 1999 relatou que essa exposição pode levar a risco aumentado de doenças neurológicas, alterações hormonais e outras doenças relacionadas ao desenvolvimento das crianças.
Mesmo estando claro os riscos da exposição a esses produtos, os agrotóxicos têm um papel importante no cultivo de diversos alimentos, pois sem eles ficaríamos muito limitados em relação à quantidade de produtos que poderiam ser cultivados, afetando o acesso das pessoas e com certeza impactando no custo dos produtos.
Esperamos que no futuro seja desenvolvido produtos que não apresentem esses riscos para a vida. Enquanto isso não acontece, é recomendado que os funcionários de plantações utilizem equipamentos de proteção e os consumidores, que tiverem condições, aumentem a ingestão de produtos orgânicos. Dessa forma, seria possível reduzir a exposição aos agrotóxicos.