Transição capilar: uma jornada de cuidados, paciência e autoaceitação
Busca por autoaceitação, diversidade e representatividade impulsionam popularidade da transição capilar
30 de junho de 2023 - às 21h30 (atualizado em 28/11/2023, às 15h11)
Envato
Escrito por
Dayana Bonetto
Redatora Let's Move 360
A transição capilar tem se tornado cada vez mais popular no Brasil, impulsionada pela busca por autoaceitação, diversidade e representatividade. Esse processo consiste em abandonar qualquer tipo de química que tenha alterado a forma original dos cabelos, buscando o retorno aos fios 100% naturais. O interesse e engajamento em relação à transição capilar têm sido impulsionados por estudos, redes sociais, grupos on-line e eventos específicos.
O último dossiê do Google BrandLab, intitulado A Revolução dos Cachos 2017, revelou dados importantes sobre a popularidade da transição capilar. Houve um crescimento de 309% no interesse por cabelos afro e um aumento de 55% na busca por informações sobre transição capilar. Essa pesquisa destaca a importância da aceitação dos cabelos naturais como uma forma de expressar identidade, especialmente para as mulheres negras.
A busca por informações e recursos relacionados à transição capilar reflete uma necessidade de compreensão, orientação e suporte nessa autodescoberta.
A transição capilar é um processo desafiador no qual uma pessoa decide retornar aos fios 100% naturais. Durante essa jornada, existem diferentes etapas que envolvem cuidados, paciência e autoaceitação.
A primeira etapa da transição capilar é o momento em que se toma a decisão de iniciar o processo. Isso pode ser motivado pela autoaceitação, diversidade, representatividade ou pela vontade de cuidar da saúde dos cabelos. Nessa fase inicial, é importante entender que cada cabelo é único e que a jornada será pessoal e única.
Em seguida, é o período de crescimento dos cabelos naturais enquanto as partes alisadas ou quimicamente tratadas ainda estão presentes. Nesse momento, pode haver uma mistura de texturas e é fundamental adotar cuidados específicos, ou seja, evitar o uso frequente de escovas, chapinhas e babyliss, pois esses equipamentos podem comprometer a forma e a saúde dos fios naturais em crescimento.
Na terceira etapa, é fundamental ter cuidado com a hidratação e nutrição dos fios. Tratamentos capilares, como hidratações profundas, umectações e nutrições devem ser realizados regularmente para manter a saúde e a vitalidade dos cabelos em transição. Além disso, é recomendado o uso de produtos específicos para cabelos em transição, como óleos capilares e leave-in (produtos sem enxágue e aplicados nos fios após a lavagem ou secos), que ajudam a nutrir e fortalecer os fios durante esse processo.
Logo depois, é o momento de tomar decisões em relação ao comprimento dos cabelos. Algumas pessoas optam por realizar cortes graduais, eliminando as partes tratadas quimicamente aos poucos, enquanto outras escolhem o big chop, um corte radical que remove toda a parte alisada de uma vez. Essa é uma escolha pessoal e deve ser feita de acordo com o conforto e a preferência de cada indivíduo.
Na quinta fase, os cuidados com os cabelos naturais em transição se tornam essenciais. Agora que o cabelo está completamente livre de química, é importante adotar uma rotina de cuidados adequada para os fios naturais. Isso inclui o uso de produtos específicos para cabelos cacheados, crespos ou ondulados, como shampoos sem sulfato, condicionadores hidratantes e finalizadores que ajudam a definir e valorizar a textura natural dos cabelos.
Além dos cuidados externos, a transição capilar também envolve um processo de autoaceitação e amor próprio. É comum enfrentar desafios emocionais durante essa jornada, especialmente quando os cabelos estão em diferentes estágios de transição. Nesses momentos, é vital buscar apoio em comunidades, grupos online ou em profissionais especializados que possam fornecer orientação e encorajamento. Juninho Loes, especialista em cabelos cacheados e crespos, acrescenta que o processo de transição mexe profundamente com o emocional das pessoas, pois envolve autodescoberta e aceitação. Ele destaca que muitas mulheres não têm relação afetiva com seu cabelo natural. Nesse caso, o especialista ressalta a importância de desconstruir tudo o que se entende como beleza para ressignificar “seu lugar”, ou seja, recuperar o que foi deixado para trás na tentativa de ser alguém imposto pela sociedade.
A última etapa da transição capilar é o momento em que os cabelos naturais se tornam a nova identidade. É um momento de orgulho por abraçar a própria beleza única. A transição capilar não é apenas uma mudança estética, mas também uma transformação interna que reflete a aceitação de quem somos. Loes destaca que seu sonho é que todas as mulheres tenham a oportunidade de se verem com o cabelo natural, que elas tenham autonomia para decidir como se sentir bonitas, sem precisar disfarçar.
Quanto dura uma transição capilar
A duração da transição capilar varia, em média, de dois a três anos. Isso se deve ao crescimento mensal médio do cabelo, que é de aproximadamente 2 cm. Só que fios muito danificados pela química podem crescer devagar por estarem frágeis, quebradiços e com poucos nutrientes. Loes explica que o tempo do processo de transição leva em conta a história capilar individual. Para ele, nunca foi só cabelo, pois cada pessoa tem sua própria jornada. O especialista ressalta que esse percurso representa um passo em direção à valorização da beleza natural e ao fortalecimento da autoaceitação. Ao abraçar a transição capilar, muitas pessoas encontram um sentido de identidade e orgulho em seus cabelos naturais, promovendo a diversidade e a representatividade. Para ele, é a luta contra os padrões impostos pela sociedade de forma política e social. É uma das maiores revoluções deste país contra o racismo estrutural e pela identidade real do povo diverso.
Embora a transição capilar seja um processo desafiador que pode afetar a autoestima, é importante lembrar que cada etapa faz parte da jornada rumo à redescoberta da beleza natural. Não existe um tratamento milagroso que possa eliminar esse processo, mas é possível alcançar a forma natural dos cabelos por meio de profissionais adequados e cuidados especiais.
Fatores que influenciam o tempo da transição capilar
Um dos principais fatores que podem influenciar o tempo de duração da transição capilar é o comprimento do cabelo. Se estiver curto, o processo tende a ser mais rápido, pois as partes alisadas são cortadas com frequência. Por outro lado, se o cabelo estiver muito comprido, o crescimento das raízes naturais pode levar mais tempo, prolongando a transição. A textura natural do cabelo também desempenha um papel importante. Os cabelos mais crespos ou cacheados formam cachos definidos mais rápido durante a transição, facilitando o processo. Já os naturalmente mais lisos podem levar mais tempo para formar cachos definidos, prolongando o processo de transição.
A frequência do corte também afeta a duração da transição. Se o cabelo for cortado regularmente, as pontas alisadas serão removidas mais rapidamente, acelerando o processo de transição. Porém, se os cortes forem menos frequentes, as partes alisadas permanecerão por mais tempo, prolongando a transição capilar.
É importante ressaltar que cada pessoa tem uma jornada única de transição capilar. O tempo necessário para completar o processo pode variar de acordo com a genética, o cuidado com o cabelo e a dedicação aos cuidados específicos para cabelos em transição.
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