Efeitos de androgênicos e anabolizantes

O uso de esteroides para fins estéticos envolve riscos como dependência, efeitos físicos e complicações cardiovasculares, além de vigorexia

1 de agosto de 2024 - às 10h10 (atualizado em 27/7/2024, às 10h30)

Um homem musculoso segura uma seringa e olha com um olhar de indecisão se deve ou não usar anabolizantes
Crédito:

Envato

Escrito por

Dayana Bonetto

Redatora Let's Move 360

Desde abril de 2023, a prescrição médica de terapias hormonais com esteroides androgênicos e anabolizantes (EAA), com fins estéticos e para ganho de massa muscular, foi proibida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), seguindo a resolução 2333/23baseada em um estudo dinamarquês que mostra que o risco de morte por qualquer motivo aumenta em 2,8 vezes para quem usa anabolizantes em comparação com quem não usa. 

Os termos androgênicos e anabolizantes são diferentes efeitos dos esteroides, especialmente aqueles ligados à testosterona. Androgênicos, por exemplo, se referem ao desenvolvimento e manutenção das características sexuais masculinas, como o crescimento de pelos faciais, a voz mais grossa e a produção de espermatozoides. Já os efeitos anabolizantes estão relacionados ao crescimento muscular e ao aumento da síntese de proteínas, por isso são usados para ganhar massa muscular e força. 

Apesar de não permitida, ainda é comum ver pessoas utilizando esteroides para fins estéticos. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o número de comercialização de anabolizantes com testosterona sintética mais do que triplicou de 2018 para 2023. Em 2018, foi de 1.096.850, enquanto em 2023 esse valor foi de 7.355.726, ou seja, um crescimento de 670,62%. O segundo ano com maior índice de vendas foi 2020, com 4.014.194. O levantamento considerou o total de embalagens comercializadas de testosterona sintética.

O órgão do Governo Federal brasileiro explica que os anabolizantes são substâncias que estimulam o crescimento de músculos e outros tecidos da anatomia, agindo como versões mais potentes dos hormônios que o corpo humano já produz, principalmente a testosterona, que está associada ao desenvolvimento muscular. Normalmente, são indicados para tratar doenças como a osteoporose, certos tipos de anemia ou hipogonadismo, uma condição em que os testículos não produzem hormônios sexuais suficientes. Podem ser tomados como comprimidos ou aplicados por meio de injeções. 

Os anabolizantes estimulam a produção de novas fibras musculares, o que pode resultar em um crescimento mais rápido dos músculos. Por isso, muitas vezes são usados indevidamente por atletas que querem melhorar o desempenho esportivo e ganhar massa de forma acelerada. Seu efeito pode ser percebido em poucas semanas, muito mais rápido do que o ganho natural. É aí que está o perigo! Márcio Atalla, professor de educação física especializado em treinamento de alto rendimento e pós-graduado em nutrição pela Universidade de São Paulo (USP), destaca que é justamente essa velocidade que costuma seduzir adeptos. No entanto, ele alerta os riscos e perigos que esse consumo representa para a saúde, tanto a curto quanto a longo prazo. “Pode causar complicações cardiovasculares e pressão alta, além de problemas cardíacos e até alguns tipos de câncer. Há também a questão relacionada aos hormônios, como a testosterona. Quando alguém começa a tomá-la, o corpo entende que não precisa mais produzi-la. Assim, uma das consequências é que a pessoa deixa de produzir hormônios. Essa condição pode ser temporária ou permanente”, salienta. Segundo o Hospital do Coração, mais conhecido como HCor, além das complicações cardíacas, o uso de anabolizantes pode modificar as funções fisiológicas do fígado, resultando em aumento do colesterol ruim (LDL) e diminuição do colesterol bom (HDL). 

Desequilíbrios nos níveis de hormônio no corpo

As alterações hormonais podem ter efeitos significativos no corpo humano, tanto físicos quanto comportamentais. De acordo com Atalla, nos homens, além de irritabilidade e agressividade aumentadas, essas mudanças podem causar calvície, um maxilar mais proeminente e maior propensão à acne. Em casos mais graves, o órgão sexual pode atrofiar e a produção de espermatozoides parar completamente.

Nas mulheres, o aumento dos hormônios masculinos também pode resultar em maior irritabilidade e acne. Atalla destaca que a masculinização pode ocorrer, com mudanças na voz, crescimento de pelos e alterações no formato do corpo. 

Riscos da dependência e consequências do desmame 

De acordo com Márcio Atalla, o risco de dependência é muito grande porque, depois que a pessoa para de tomar a substância, os resultados já não são mais os mesmos e ela pode desenvolver um distúrbio de imagem chamado vigorexia, no qual a ela se olha no espelho e nunca acha que está bem, sentindo-se menor do que realmente é. Isso pode levar ao vício e à contínua ingestão da substância, criando uma dependência muito forte.

Ele ressalta que o problema surge quando, por motivos de saúde, a pessoa precisa parar de usar a substância. “O corpo, que estava acostumado a funcionar como um carro de alta performance, passa a se comportar como um veículo dos anos 1930, ficando bem mais lento. O metabolismo desacelera, o corpo deixa de produzir os hormônios necessários e a disposição é semelhante à de uma pessoa muito idosa”, pontua. Atalla alerta: “Por isso, é preciso ter cuidado ao interromper o uso. O desmame deve ser feito com calma e acompanhado por um médico para garantir que o corpo está voltando a produzir os hormônios adequados. Às vezes, é necessário diminuir o uso gradativamente, o que torna o acompanhamento médico fundamental para a segurança do processo”, recomenda.

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