O que é Displasia de Desenvolvimento do Quadril (DDQ)

A displasia do desenvolvimento do quadril é mais associada a bebês, mas também pode aparecer durante o crescimento da criança

3 de junho de 2024 - às 13h37 (atualizado em 3/6/2024, às 13h51)

Uma jovem mulher segura gentilmente um recém-nascido perto de seu peito, com o bebê envolvido em um sling roxo.
Crédito:

Envato

Escrito por

Dayana Bonetto

Redatora Let's Move 360

A displasia do desenvolvimento do quadril, também conhecida pela sigla DDQ, é uma condição em que a articulação do quadril não se forma corretamente. Quando saudável, a parte superior do osso da coxa, chamada de cabeça do fêmur, se encaixa na bacia como uma bola dentro de um copo. Na DDQ, esse encaixe pode ser incompleto, frouxo ou instável, o que pode causar problemas de mobilidade e dores no quadril.

Segundo João Pedro Rocha, ortopedista e traumatologista, cirurgião membro do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC – FMUSP), no Brasil, estima-se que de 1 a 3 em cada 1.000 recém-nascidos vivos apresentam algum grau de DDQ, com maior prevalência em meninas e bebês pélvicos, aqueles que nascem sentados, com o bumbum primeiro.

Fatores que provocam a DDQ 

De acordo com o  ortopedista e traumatologista, as razões que provocam a DDQ podem ser várias. No entanto, ele destaca as mais comuns:  “Em algumas situações, a origem é genética, ou seja, a tendência a ter displasia pode ser herdada dos pais. Em outras circunstâncias, a DDQ pode estar relacionada a causas durante a gravidez, como a posição do bebê no útero ou a falta de espaço para o fêmur se desenvolver corretamente. Além disso, práticas que envolvem forçar as pernas do bebê para baixo ou para trás também podem aumentar o risco de DDQ”, pontua. 

Práticas que podem forçar as pernas do bebê 

  • Uso inadequado de dispositivos de transporte infantil: em alguns tipos de carrinhos de bebê ou assentos para automóveis, se o bebê for colocado de forma que suas pernas fiquem pressionadas ou forçadas para baixo por um longo período de tempo, isso pode aumentar o risco de DDQ;
  • Enrolamento apertado do bebê em cobertores ou swaddles: algumas práticas de enrolamento apertado podem forçar as pernas do bebê para baixo ou para trás, especialmente se forem amarradas de maneira a restringir o movimento natural das articulações do quadril;
  • Métodos de carregamento do bebê que não suportam as pernas de forma correta: ao carregar o bebê em slings ou carregadores, é importante garantir que as pernas do bebê fiquem em uma posição natural e não forçadas para baixo ou para trás. Se o carregador apertar as pernas do bebê contra o corpo do adulto de forma excessiva, isso pode aumentar o risco de DDQ;

Gravidade da DDQ 

Rocha explica que, em casos leves, o quadril pode estar apenas um pouco desalinhado, o que muitas vezes não é notado até que a criança comece a dar os primeiros passos ou a engatinhar, momento em que a diferença de movimento pode se tornar mais evidente. 

Em casos mais graves, o quadril está completamente fora do lugar, resultando em um deslocamento visível e sérias limitações de movimento. Nessas situações, o bebê pode ter dificuldade para movimentar as pernas e pode apresentar assimetria no comprimento dos membros, afetando sua capacidade de engatinhar, andar ou até mesmo sentar corretamente. 

A importância do diagnóstico precoce

O ortopedista e traumatologista ressalta que é crucial a detecção precoce, pois permite tratamento corretivo por meio de dispositivos de imobilização ou fisioterapia, evitando complicações futuras. Ele alerta: “Se não for corrigido a tempo, a DDQ severa pode levar a problemas como claudicação, dor crônica e artrite precoce, que podem exigir cirurgias complexas para correção”, salienta.

De acordo com ele, isso ocorre porque, com o quadril deslocado, a articulação não se desenvolve adequadamente, resultando em uma má formação do encaixe entre a cabeça do fêmur e o acetábulo. Com o tempo, esse desalinhamento causa um desgaste desigual das superfícies articulares, levando à dor persistente durante o movimento, instabilidade ao caminhar (claudicação) e até artrite, uma inflamação dolorosa nas articulações.

Quando a condição é detectada tardiamente, o tratamento conservador pode não ser suficiente para corrigir o problema, exigindo procedimentos cirúrgicos mais invasivos, como osteotomias ou até mesmo artroplastias para restaurar o alinhamento e a função do quadril.

Além disso, Rocha destaca que, embora a displasia seja mais associada a bebês, ela também pode aparecer durante o crescimento da criança. “Por isso, é importante que os pais e cuidadores fiquem atentos a sinais de problemas no quadril, como assimetria nas dobras das pernas, movimento reduzido ou cliques ao mover a perna do bebê. Se houver suspeita de DDQ, é fundamental procurar um médico especialista para uma avaliação completa”, orienta.

Opções de tratamento e recomendações

O tratamento da DDQ é adaptado para a gravidade do caso, a idade do bebê e a resposta ao tratamento. Segundo Rocha, as opções podem incluir abordagens não invasivas ou cirúrgicas, conforme o caso. Ele compartilha as principais estratégias de tratamento e algumas orientações práticas:

  • Observação e monitoramento: nos casos leves, onde o quadril é apenas levemente instável, os médicos podem recomendar observação cuidadosa para verificar se a condição se resolve naturalmente com o tempo. Os pais ou cuidadores devem manter consultas regulares para avaliar o progresso do bebê e garantir que a displasia não se agrave; 
  • Aparelhos ortopédicos: para casos mais severos, os bebês podem precisar usar aparelhos específicos, como o Suspensório de Pavlik ou a órtese de abdução. Esses dispositivos mantêm as pernas do bebê em uma posição que promove o desenvolvimento normal do quadril. Bebês usando esses aparelhos precisam de monitoramento regular para ajustar o equipamento e verificar se o quadril está se estabilizando. No dia a dia, isso significa que os pais devem aprender a trocar fraldas, roupas e posicionar o bebê sem remover o aparelho;
  • Cirurgia: se a displasia é grave ou não responde ao uso de aparelhos, a cirurgia pode ser necessária. Os procedimentos cirúrgicos são para corrigir a posição do quadril e permitir seu desenvolvimento normal. A cirurgia é geralmente seguida de reabilitação e uso de gesso ou aparelhos para manter o quadril na posição correta durante a recuperação;

Orientações para bebês de risco

De acordo com Rocha, determinados bebês têm maior risco de desenvolver DDQ, especialmente aqueles que nasceram em posição de pés ou nádegas, além dos do sexo feminino. Nesses casos, é recomendado:

  • Exames físicos de rotina: todos os recém-nascidos devem passar por exames físicos para verificar sinais de DDQ. Isso inclui testes como o Ortolani e Barlow, que avaliam a estabilidade do quadril;
  • Ultrassom do quadril: é recomendável que sejam submetidos a exames de ultrassom do quadril nas primeiras 6 semanas de vida para detectar qualquer anomalia precocemente. O ultrassom é uma técnica não invasiva que ajuda a visualizar a estrutura do quadril do bebê sem exposição à radiação;
  • Acompanhamento médico regular: mesmo após um diagnóstico inicial, o acompanhamento é crucial para garantir que o quadril do bebê continue a se desenvolver normalmente. Geralmente, recomenda-se manter consultas médicas regulares até, no mínimo, 2 anos de vida, ou até que o quadril demonstre maturidade esquelética. Isso permite detectar precocemente qualquer recidiva ou complicação.

O ortopedista e traumatologista ressalta: “O tratamento da DDQ requer uma abordagem cuidadosa e individualizada. O sucesso do procedimento depende tanto da detecção precoce quanto do acompanhamento contínuo para garantir um desenvolvimento saudável do quadril.” Ele também indica que pais e cuidadores devem manter uma comunicação aberta com os profissionais de saúde para obter instruções sobre cuidados diários, uso de aparelhos ortopédicos e outras recomendações específicas para o caso do bebê.

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