Refluxo Gastroesofágico (DRGE)

Azias afetam até 20% da população brasileira, podendo gerar danos ao esôfago se não controladas

12 de agosto de 2024 - às 10h00 (atualizado em 9/8/2024, às 16h26)

A imagem mostra uma mulher com dor na região abdominal, sentada em um sofá em casa.
Crédito:

Envato

Escrito por

Dayana Bonetto

Redatora Let's Move 360

O refluxo gastroesofágico (DRGE), conhecido como azia, atinge de 12% a 20% da população brasileira, segundo a Sociedade Brasileira de Motilidade Digestiva e Neurogastroenterologia (SBMDN). Eric Pereira, gastroenterologista do Hospital & Clínica São Gonçalo, explica que a condição é caracterizada pelo retorno do conteúdo gástrico para o esôfago. “O DRGE acontece quando o músculo entre o esôfago, o tubo que liga a boca ao estômago, não fecha corretamente, fazendo com que o ácido do estômago, responsável pela digestão dos alimentos, retorne para o esôfago. Isso pode causar sintomas como azia, queimação no peito e a sensação de que a comida está voltando”, destaca. Ele enfatiza também que, geralmente, pode ser tratado com mudanças na alimentação, remédios, mas em casos graves, cirurgia. “Se não for controlado, pode causar problemas no esôfago a longo prazo, como esofagite, uma inflamação do esôfago, e estenose esofágica, que é o estreitamento do esôfago devido ao acúmulo de cicatrizes”, alerta.

Fatores de risco

Clariana Colaço, nutricionista especializada em transtornos alimentares, destaca os fatores mais comuns que podem aumentar o risco de Doença do Refluxo Gastroesofágico. Ela salienta que é essencial estar ciente desses elementos para adotar medidas preventivas e adequadas. São eles:

  • Alimentação: alimentos picantes, gordurosos, ácidos e cafeinados podem irritar o revestimento do estômago e levar ao refluxo ácido. Por exemplo, comer uma pizza muito condimentada ou beber muito café pode desencadear sintomas de azia em algumas pessoas. Além disso, existem nutrientes que causam distensão abdominal, como feijão e repolho, que podem aumentar a pressão no estômago e favorecer o refluxo;
  • Sobrepeso: estar acima do peso pode exercer pressão adicional sobre o estômago, o que pode fazer com que o ácido do estômago retorne para o esôfago com mais facilidade. Por exemplo, uma pessoa com sobrepeso que se inclina para frente pode sentir o conteúdo do estômago subindo pelo esôfago, causando desconforto ou azia;

 

  • Gravidez: durante a gravidez, as alterações hormonais podem relaxar os músculos do trato digestivo, incluindo o esfíncter esofágico inferior (EEI), que normalmente impede que o ácido do estômago reflua para o esôfago. Além disso, o crescimento do útero pode exercer pressão adicional sobre o estômago, aumentando o risco de refluxo ácido;

 

  • Tabagismo: fumar enfraquece o EEI, tornando-o menos eficaz na prevenção do refluxo ácido. O hábito de fumar também pode aumentar a produção de ácido estomacal;
  • Hábitos alimentares: comer grandes refeições antes de dormir ou deitar pode aumentar o risco de refluxo ácido, pois isso permite que o ácido do estômago tenha mais oportunidades de retornar para o esôfago enquanto a pessoa está deitada;
  • Consumo de álcool: o álcool pode relaxar o EEI e aumentar a produção de ácido estomacal, o que facilita o refluxo ácido. Uma pessoa que bebe muitas bebidas alcoólicas em uma festa pode sentir azia ou regurgitação durante a noite ou na manhã seguinte;
  • Condições médicas: Hérnia de hiato e esclerodermia, podem afetar o funcionamento normal do esfíncter esofágico inferior, tornando-o menos eficaz na prevenção do refluxo ácido;
  • Uso de medicamentos: anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), relaxantes musculares, bloqueadores de cálcio e certos medicamentos para pressão arterial, podem relaxar o EEI ou irritar o revestimento do estômago, aumentando o risco de refluxo ácido;

Sintomas comuns

Um dos principais sintomas da DRGE é a azia, que causa incômodos. Segundo o gastroenterologista, a diferença dessa doença para outros problemas do estômago é que os efeitos são frequentes, ou seja, a pessoa sente queimação praticamente todos os dias. Além desse sinal, Pereira cita outros:

  • Dor no peito: dor na região do peito que pode ser intensa e muitas vezes é confundida com problemas cardíacos, como angina ou infarto. Na DRGE, essa dor é causada pelo ácido do estômago que volta para o esôfago;
  • Rouquidão: a voz fica áspera, rouca ou fraca. Pode ocorrer devido à irritação do revestimento do esôfago pelo ácido estomacal;
  • Pigarro: sensação de algo preso na garganta que precisa ser tossido ou limpado. Pode ocorrer devido ao excesso de muco produzido em resposta à irritação do esôfago;
  • Tosse crônica e seca: é uma tosse persistente que não produz muco. Pode ser causada pela irritação do revestimento do esôfago ou pela aspiração de pequenas quantidades de ácido estomacal para os pulmões;
  • Regurgitação: quando o alimento ou o líquido retorna da parte inferior do esôfago para a boca, sem esforço de vômito. Pode ser acompanhada de uma sensação de gosto ácido na boca;
  • Doenças pulmonares de repetição: são problemas respiratórios frequentes, como pneumonias, bronquites e asma, que podem ser causados pela inalação de pequenas quantidades de ácido estomacal que chegam aos pulmões. Isso pode acontecer devido à DRGE não tratada.

Tipos de DRGE, prevenção e tratamento

A DRGE pode ser classificada em erosiva e não erosiva. No primeiro caso, Pereira explica que durante a endoscopia é possível visualizar feridas no revestimento interno do esôfago, causadas pelo refluxo do ácido estomacal. “É como se o ácido do estômago machucasse o esôfago”, esclarece.Por outro lado, na forma não erosiva, não há essas feridas visíveis, mas os sintomas de queimação e regurgitação ainda estão presentes.

Para lidar com a DRGE, ele indica que algumas mudanças no estilo de vida podem ser muito úteis. “Evitar consumir alimentos gordurosos ou muito pesados antes de deitar pode ajudar a diminuir os episódios de refluxo. Da mesma forma, elevar um pouco a cabeceira da cama pode reduzir o refluxo noturno. Parar de fumar, diminuir a ingestão de café e até mesmo perder peso, se estiver acima do recomendado, também são medidas que podem aliviar os sintomas”, recomenda.

Além de adotar outro estilo de vida, o gastroenterologista ressalta que o médico também pode prescrever remédios para controlar a DRGE. “Eles funcionam de diferentes maneiras, ajudando a reduzir a produção de ácido no estômago ou fortalecendo a válvula entre o estômago e o esôfago para evitar o refluxo”, pontua.

Em casos mais graves, quando as medidas anteriores não são suficientes, ele destaca que pode ser necessário recorrer à cirurgia para corrigir o problema. “Essa intervenção é mais rara e geralmente é considerada apenas quando outras opções de tratamento não surtem efeito”, alerta.

Cuidados para aliviar o refluxo gástrico

  • Evite automedicação: é importante buscar ajuda médica para diagnóstico e tratamento adequados, em vez de se automedicar;
  • Cuide da alimentação: escolha alimentos leves, evitando excessos e opções que possam irritar o estômago;
  • Diga Não ao cigarro: parar pode reduzir significativamente os sintomas de azia e refluxo;
  • Mantenha um peso saudável: perder peso, se necessário, pode aliviar a pressão sobre o estômago e reduzir os sintomas;
  • Espere depois de comer: evite deitar imediatamente após as refeições, esperando pelo menos duas horas antes de se deitar;
  • Coma devagar e mastigue bem: mastigar os alimentos lentamente pode facilitar a digestão e minimizar o risco de azia;
  • Estimule a produção de saliva: mastigar gomas de mascar sem açúcar ou chupar balas pode ajudar a neutralizar o ácido estomacal;
  • Atenção ao bebê: evite deitar o bebê imediatamente após a amamentação, mantendo-o em pé por alguns minutos para facilitar a digestão;

 

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