Síndrome de Guillain Barré: distúrbio autoimune nervoso

Conheça os sinais, diagnóstico, tratamento e a importância do cuidado precoce

22 de julho de 2024 - às 10h10 (atualizado em 19/7/2024, às 10h22)

A imagem mostra uma pessoa, com apenas a parte superior do corpo visível, segurando e massageando seu pulso esquerdo com a mão direita, sugerindo desconforto ou dor no pulso. Ela veste uma camiseta de cor clara e está em um ambiente neutro.
Crédito:

Envato

Escrito por

Dayana Bonetto

Redatora Let's Move 360

A síndrome de Guillain Barré é um distúrbio autoimune, ou seja, uma condição em que o próprio sistema imunológico do corpo ataca uma parte do sistema nervoso, a bainha de mielina, uma camada protetora que envolve os nervos periféricos, responsáveis por transmitir sinais do cérebro para outras partes do corpo. Frederico Mennucci de Haidar Jorge, neurologista do Hospital Santa Catarina, explica que, geralmente, essa síndrome ocorre após um episódio infeccioso e se manifesta por meio de fraqueza muscular e diminuição ou ausência de reflexos. Ele ressalta que diversos agentes infecciosos podem desencadear essa síndrome, sendo o Campylobacter, causador de diarreia, o mais comum. Segundo o Ministério da Saúde (MS), a incidência anual é de 1 a 4 casos por 100.000 pessoas, com maior ocorrência entre os 20 e 40 anos de idade.

Sinais e sintomas de alerta 

De acordo com o neurologista, como a síndrome de Guillain Barré ataca a bainha de mielina, os sinais e os sintomas que a pessoa pode apresentar são decorrentes da disfunção dos nervos afetados. “Normalmente, os primeiros indícios são da parte mais distal do corpo para a parte mais proximal. Então, se fala que é uma lesão comprimento-dependente, quanto mais comprido o nervo, mais ele é afetado distante e vai progredindo para a região mais central. Ou seja, começa nos pés, nas mãos e vai progredindo para a perna, para a coxa, para o antebraço e para o ombro, podendo chegar até a musculatura central, que é a da respiração, diafragma e a deglutição”, alerta. Haidar Jorge conclui: “os sinais e sintomas são uma combinação de déficit motor e sensitivo. Existe a fraqueza nos pés, que pode causar a sensação de que o pé está caído, de tropeçar e, no caso das mãos, dificuldade de manusear objetos, de abotoar a camisa, de escrever, de escovar os dentes”, pontua. 

Além desses sinais, o Ministério da Saúde indica que existem outros que podem estar relacionados à síndrome:

  • Sonolência: é um estado de sonolência ou sonolência excessiva, onde a pessoa sente uma forte vontade de dormir;
  • Confusão mental: um estado de desorientação ou dificuldade em pensar com clareza, podendo incluir problemas de memória, concentração e raciocínio;
  • Coma: é um estado de inconsciência profunda no qual a pessoa não responde a estímulos externos e não está acordada;
  • Crise epiléptica: também conhecida como convulsão, é uma alteração temporária na atividade elétrica do cérebro, resultando em movimentos corporais involuntários, alterações de consciência ou sensações anormais;
  • Alteração do nível de consciência: mudanças na capacidade de estar alerta e consciente do ambiente e de si mesmo;
  • Perda da coordenação muscular: indica dificuldade em coordenar os movimentos musculares, resultando em falta de controle sobre os movimentos corporais;
  • Visão dupla: é uma condição na qual uma pessoa percebe duas imagens de um único objeto, causada por uma falta de alinhamento dos olhos ou disfunção dos músculos oculares.
  • Fraqueza facial: redução na força muscular dos músculos faciais, o que pode levar a dificuldades na expressão facial, na fala e na mastigação;
  • Tremores: são movimentos involuntários e rítmicos de parte do corpo, geralmente causados por contrações musculares alternadas;
  • Redução ou perda do tono muscular: diminuição na firmeza e na tensão dos músculos, podendo levar à fraqueza muscular e dificuldade em manter a postura corporal;
  • Dormência, queimação ou coceira nos membros: sensações anormais que podem ser experimentadas como dormência (perda de sensação), queimação (sensação de calor) ou coceira nos membros, muitas vezes causadas por danos nos nervos.

Complicações e como elas podem ser gerenciadas

Segundo o neurologista, as complicações podem incluir óbito, pois essa fraqueza que começa nas mãos e nos pés pode afetar os músculos respiratórios, levando o paciente à insuficiência respiratória e, consequentemente, ao óbito. De acordo com ele, toda pessoa com Guillain-Barré deve ser internada e monitorada, inclusive em ambiente de UTI, até que se tenha certeza de que a doença parou de progredir. “A primeira e mais grave complicação é a morte, enquanto outras podem ser sequelas, como déficits motores e sensitivos. No entanto, nem todos os pacientes desenvolverão sequelas, pois isso depende do estado de saúde inicial do paciente, do início precoce do tratamento e da capacidade de regeneração”, destaca.

Diagnóstico e opções de tratamento 

Frederico Mennucci explica que o diagnóstico é feito pela história clínica, observando como começou e progrediu, e pelo exame neurológico, onde são avaliados os déficits motores, principalmente na parte distal, o déficit sensitivo e a pesquisa de reflexos realizada pelo neurologista. “Na Guillain Barré, a pessoa apresenta perda dos reflexos, então um exame neurológico evidenciando fraqueza, perda sensitiva e ausência de reflexos, juntamente com uma história de progressão, confirma o diagnóstico clínico. Além disso, exames como a coleta de líquor podem revelar um aumento de proteínas sem aumento de células, sendo um achado inespecífico, mas que em conjunto com a história clínica e o exame físico auxilia no diagnóstico. Por último, a eletroneuromiografia pode ser utilizada para mostrar os nervos comprometidos, embora não seja comumente utilizada como primeiro exame diagnóstico em ambiente hospitalar”, pontua.

Com relação aos tratamentos, o neurologista ressalta que as opções terapêuticas mais eficazes incluem a plasmaferese, que consiste na troca do plasma do paciente para remover os anticorpos que estão causando as lesões, realizada por sessões durante o evento da doença, ou a infusão de imunoglobulina, que também combate o insulto inflamatório. “Durante o curso da doença, a plasmaferese ou a infusão de imunoglobulina podem ser realizadas, sempre acompanhadas de fisioterapia o mais precocemente possível”, indica.

A importância do tratamento precoce

Se o tratamento for iniciado precocemente e conseguir interromper o quadro inflamatório, a regeneração pode ser bastante eficaz, especialmente no que diz respeito à bainha de mielina, o alvo primário da doença. A doença de Guillain-Barré é um evento único, e após a cessação da inflamação, o paciente entra em um processo de regeneração. O gerenciamento inclui acompanhamento com um neurologista, fisioterapia e monitorização para confirmar o diagnóstico correto e excluir outras doenças que possam ter causado uma inflamação semelhante.

 

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