Não sabemos o que não sabemos – sobre o caráter inacabado de todo conhecimento
Tenho aprendido que o óbvio nem sempre é óbvio, que precisa ser dito
6 de julho de 2023 - às 19h49 (atualizado em 24/8/2023, às 11h41)
Envato
Escrito por
Flávia Costa e Silva
Socióloga e Consteladora Familiar e Sistêmica
O filósofo Michel Foucault disse: “cada época pensa o que pode”. O engenheiro Lee Carroll, ao canalizar a consciência Kryon, sentenciou: “não sabemos o que não sabemos”. Expressões que conversam com Shakespeare em sua célebre frase, “há mais mistérios entre o céu e a terra do que a nossa vã filosofia possa imaginar”, e com Sócrates, “quanto mais sei que sei, menos sei que sei”.
Se considerarmos que a noção de ciência, tal qual conhecemos, começou a ganhar espaço e força a partir da física newtoniana, estamos não só atravessando dois séculos, mas um milênio. Somos protagonistas na transição de um conhecimento secular para um próximo conhecimento milenar. Nessa transição, assistimos ao desdobramento da ciência materialista de Newton, passando para a ciência das ondas e partículas de Einstein, ou seja, da matéria para a energia.
Em meio a este cenário, chegamos a Rubem Alves, educador brasileiro, que resumiu lindamente nossas jornadas cognitivas tempo a fora: “o conhecimento nasceu como uma extensão do corpo para ajudá-lo a viver. O corpo sentiu dor e a dor fê-lo usar a inteligência a fim de encontrar uma receita para pôr fim à dor. O corpo sentiu prazer, e o prazer fê-lo usar a inteligência a fim de repetir essa experiência do prazer. Esse é o início do conhecimento. Foi assim que nasceu a ciência”.
Tenho aprendido que o óbvio nem sempre é óbvio, que precisa ser dito. Assim, apresento a óbvia constatação de que experimentamos a vida neste planeta por meio do nosso corpo; tanto que, ao morrermos, deixamos o corpo. O corpo humano materializa as experiências da vida nesse planeta.
Convido você a considerar imagens de séculos passados, imagine a idade média, vá além, conecte-se à vida nas savanas africanas, nomadismo e sedentarismo às margens do rio Nilo… Passando por diferentes desafios e contextos socioculturais, nossos ancestrais conseguiram garantir a sobrevivência e o aperfeiçoamento de nosso sistema corporal até aqui. Essa sobrevivência é marcada por intempéries, catástrofes naturais, guerras, perdas, traições, que ao longo dos milênios vem dividindo espaço com capacidade criativa, fé, confiança, amizade, alegria e muita invenção.
Nossos corpos contêm a história de nossa civilização, são imensas bibliotecas vivas. Merecem todo nosso respeito e atenção, pois são nossos veículos de experiência. Ganhamos nosso corpo de nossos pais e assim, todos os humanos chegaram a este planeta, ganhando a vida por meio do material biológico (e tudo o que isso envolve e significa) de um homem e de uma mulher.
O impacto do encontro, e relação, desses homens e mulheres, que nos originaram, reverbera em nossas vidas de diferentes formas. Lembra da expressão lá do início do texto: não sabemos o que não sabemos?! Pois então, ainda não sabemos muita coisa sobre os impactos ancestrais na realidade na qual vivemos, assim como não sabemos sobre os impactos energéticos na matéria.
Diante de tudo isso, saliento o caráter inacabado de todo conhecimento. Todavia, reconheço e respeito todo o conhecimento produzido até aqui, desde a medicina até a teologia, passando pelas engenharias, antropologias e conhecimentos fora do campo científico.
Meu convite é para nos movermos em direção ao que ainda não sabemos sobre nós mesmos, a vida e o mundo a partir de dentro, considerando nosso corpo como terapeuta, professor e orientador do caminho. Convido você a abrir sua percepção para os desconhecidos caminhos onde razão, emoção, ancestralidade, futuro, alma e espírito se encontram em nossos corpos, nos fazendo aprofundar e expandir.