O corpo como terapeuta
Você já parou para pensar sobre seu corpo? Já parou para sentir e perceber o que seu corpo pensa e sente?
18 de agosto de 2023 - às 10h46 (atualizado em 18/8/2023, às 10h46)
Envato
Escrito por
Flávia Costa e Silva
Socióloga e Consteladora Familiar e Sistêmica
Sim! Sentir e pensar é uma coisa, mas perceber o que se sente e pensa, é outra: mostra que existe, pelo menos, um observador, um observado e um fluxo entre essas posições, ou seja, retira a ideia do automático.
Rubem Alves, importante educador brasileiro nos diz: “O conhecimento nasceu como uma extensão do corpo, para ajudá-lo a viver. O corpo sentiu dor, e a dor fê-lo usar a inteligência a fim de encontrar uma receita para pôr fim à dor. O corpo sentiu prazer, e o prazer fê-lo usar a inteligência a fim de repetir a experiência do prazer. Este é o início do conhecimento, foi assim que nasceu a ciência”.
Tão óbvio e tão necessário lembrar, não é mesmo?! Isso acontece porque muitas vezes, andamos por aí como uma cabeça ambulante. Com a compulsão da busca por entender o que estamos vivendo, perdemos o frescor da experiência. Arrisco afirmar que a grande maioria das pessoas costuma lembrar que tem um corpo quando sente fome, frio ou dor.
Por diversos motivos, nossa educação nos apartou do corpo, aliás, deixe-me corrigir: viemos de um longo período de interdição do corpo, diria que o corpo foi mantido em cativeiro por muitos séculos. A cultura predominante ainda olha para o corpo como algo imperfeito que precisa ser consertado, calado, medicado.
Nessa transição de século e milênio temos a honra de experienciar o alvorecer da consciência que entende que o corpo não só tem suas razões, como uma sabedoria própria. Existe inteligência no instinto e aprimoramento na razão. E a cola do instinto com a razão está em nossa capacidade de afecção, ou seja, nossa capacidade de nos afetarmos, sermos tocados em nossos sentidos.
Quando me lancei nos estudos sobre renegociação do trauma, fiquei realmente encantada e visceralmente disposta a aprender com o que meu corpo manifesta. Foi nesse contexto que nasceu a ideia de nomear, primeiramente, meu corpo como meu terapeuta e, por desdobramento, ajudar meus clientes a encontrarem seus próprios terapeutas em seus corpos. Aqui cabe uma pergunta: qual sua ideia sobre um terapeuta? O que faz um terapeuta para você? Para mim, um terapeuta nos acompanha em nosso labirinto pessoal até que nós mesmos consigamos encontrar uma saída. Um bom terapeuta pode ser uma ponte do estreito para o amplo.
Então, quando resolvi confiar que meu corpo seria meu terapeuta, usei o método Somatic Experiencing, desenvolvido por Peter Levine, oferecido no Brasil por meio da Associação Brasileira do Trauma, como um caminho que me levou do trauma ao fluxo. Aliás, continua me levando, agora, também como apoio a meus clientes.
Se a palavra é a linguagem da mente, a sensação é a linguagem do corpo. E nessa conversa, memória, trauma e vida interagem. É nessa interação que a potência do corpo como terapeuta se apresenta e, se nos dispusermos a aceitar os confortos e confrontos expressos por nossos corpos, encontraremos o fluxo da vida. Sim, a vida flui o tempo inteiro em nós. Nosso sistema nervoso está dividido em simpático e parassimpático. No simpático, nossas principais características são a habilidade para lutar e fugir; já no parassimpático, há um ramo, chamado vago-dorsal, que regula nossa capacidade de digerir, descansar, dormir e, outro, chamado vago-ventral, que regula nossa capacidade de cuidar e fazer amizade.
Se estamos fixos na tensão, ansiedade ou dor constante, é um indicativo de que temos memórias presas em nossos corpos, dificultando o pleno funcionamento do nosso sistema nervoso que, quando saudável, nos oportuniza fluir entre estados de desconforto e conforto. Esse é um importante momento para você encontrar um bom terapeuta, que o ajude a trazer a sabedoria que também está armazenada em seu corpo, para ajudá-lo a experienciar a vida no seu viver.
Flávia Costa e Silva – WhatsApp (51) 98481-4414