Sexo na terceira idade: entenda importância, os benefícios e cuidados que devem ser tomados

Sexo não tem idade! Veja como desfrutar esses momentos da vida

6 de abril de 2023 - às 18h36 (atualizado em 12/5/2023, às 20h58)

Casal de idosos passeando de mãos dadas
Crédito:

Envato

Escrito por

Margarida Chiarastelli

Redatora

O mundo está em constante mudança, a medicina avança e a preocupação com a qualidade de vida só aumenta. E quanto mais a sociedade se liberta de estereótipos e derruba tabus, mais próximo está o dia em que fazer sexo na terceira idade se tornará só mais uma faceta da vida dos idosos, assim como já acontece entre jovens e adultos.

Soma-se a isso, a comprovação de que o mundo está envelhecendo. A Organização das Nações Unidas – ONU estima que cerca de 750 milhões de pessoas no planeta passaram dos 65 anos. Segundo a própria, este contingente pode atingir 1,5 bilhão em 2050.

 

Sexo não tem idade: chega de preconceito!

Associar o sexo à beleza de corpos vigorosos ou à reprodução, acreditar que pessoas idosas perdem o interesse por relações sexuais são mitos e estereótipos criados há séculos e que ainda se mantêm. São essas crenças que podem influenciar, de forma negativa, a vida sexual dos mais velhos.

No entanto, é melhor tirar o seu preconceito do caminho. A Pesquisa Nacional sobre Envelhecimento Saudável, realizada nos Estados Unidos, em 2018, pela Universidade de Michigan, mostrou que 40% das 1.002 pessoas entrevistadas, com idades entre 65 e 80 anos, são sexualmente ativas. Quase três quartos das pessoas nessa faixa etária têm um parceiro romântico e 54% dessas são sexualmente ativas.

 

Saúde e desempenho sexual na terceira idade

Com o passar dos anos, ocorre uma queda hormonal, tanto nos homens (testosterona), quanto nas mulheres (estrógeno). Este declínio afeta a libido e o desempenho sexual, no caso dos homens, aumentam as dificuldades para a ereção, nas mulheres, diminui a  lubrificação vaginal.

Segundo Carlos Bautzer, urologista, membro do Núcleo de Medicina Sexual do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, a queda hormonal é mais uma questão orgânica. “Existe também uma questão psicológica envolvida. Muitas vezes, os pacientes acreditam que ao atingir determinada idade ele não tem mais o direito de pensar em relações sexuais, o que é absolutamente errado. A atividade sexual é importante do ponto de vista físico e emocional, para uma boa intimidade do casal”, afirma.

 

Comunicação é fundamental

Talvez o maior tabu sobre sexo na terceira idade é não falar sobre ele. A sociedade, os meios de comunicação e as políticas públicas não dão ao tema a devida atenção. E isso se reflete nos relacionamentos dos idosos, que acabam não discutindo a questão nem com seus próprios parceiros.

A comunicação é fundamental em qualquer relacionamento. E com pessoas da terceira idade não é diferente. É preciso falar sobre dificuldades e desejos sexuais, para estimular a cumplicidade. Assim, é possível encontrar alternativas para melhorar a vida e o desempenho sexual.

“Dentre os fatores importantes para manter a vida sexual ativa na terceira idade estão o diálogo, parceria, procurar ajuda se necessário e sempre resgatar o que no início do relacionamento proporcionava prazer e conexão ao casal”, aconselha Bautzer.

 

Como tratar a falta de desejo sexual na terceira idade?

A sexóloga Mary Cardoso acredita que os tratamentos para disfunção erétil e para os efeitos da menopausa requerem acompanhamento de equipe multiprofissional, incluindo terapeuta sexual e psicólogo. “No início da menopausa, é indicado acompanhamento do ginecologista para realizar as devidas reposições hormonais, se necessário, e o tratamento de disfunção erétil deve ser iniciado com acompanhamento do terapeuta sexual, o qual irá estabelecer um plano terapêutico para a melhora dos sintomas e restabelecimento das atividades sexuais”, explica Mary.

Para além das questões exclusivamente fisiológicas, a sexóloga explica que a terapia sexual, individual ou de casal “é uma excelente alternativa para disfunções sexuais na terceira idade”. Ela ajuda a enfrentar os desafios emocionais, que têm um peso significativo nesta fase da vida.

Os profissionais da medicina também precisam estar atentos a várias questões. “É importante que os especialistas possuam uma comunicação ativa e aberta com os pacientes, pois existem medicamentos para a pressão ou psiquiátricos, que podem afetar a vida sexual. Esse assunto deve ser tratado durante as consultas para que possam ser tomadas as decisões terapêuticas adequadas, de modo a preservar a saúde sexual”, alerta Bautzer.

 

Cuidados que envolvem o sexo na terceira idade

Sexo envolve prazer e risco em qualquer idade. As precauções são as mesmas para todos: usar preservativo e fazer acompanhamento médico frequente. O fato da inexistência de políticas públicas e campanhas voltadas para essa faixa etária traz consequências alarmantes.

“A preocupação sempre são as ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), elas apresentam aumento na população mais idosa pela falta do uso de preservativo, principalmente o HIV (Síndrome da imunodeficiência adquirida)” afirma a sexóloga.

Bautzer lembra que é necessário ter cuidados com as limitações físicas. “O especialista precisa estar ciente das atividades sexuais e das medicações que o paciente utiliza, além de realizar testes cardiológicos. Os resultados podem guiar sobre as limitações, mas jamais proibir que o paciente mantenha relações”.

O urologista aponta outro fator de risco, como as interações medicamentosas. “As medicações orais que possibilitam ereção possuem compostos que, associados a medicações para o coração, causam queda de pressão, gerando um risco de infarto ou AVC. Existem alternativas como injeções locais ou próteses penianas”.

 

Benefícios de uma vida sexual ativa

Os benefícios são muitos, tanto do ponto de vista físico como psíquico. A própria prática se constitui numa atividade física, “às vezes, não tão frequente”, pondera Bautzer, mas não deixa de ser. Ele acrescenta que “é comprovado que a atividade sexual ativa neurotransmissores e melhora a qualidade da saúde mental”.

Também há benefícios para a autoestima. “Uma vez que existe a parceria e a possibilidade da relação, aumenta também o autocuidado do paciente, em relação à medicação, seguir dietas mais rigorosas para a idade, etc”, aponta o médico.

“É importante lembrar que sexo não necessariamente envolve penetração. Muitas vezes os pacientes não conseguem fazer penetração, mas existem outras formas de atingir a satisfação sexual e isso contribui muito para a autoestima, pois ao conseguir dar prazer para o parceiro, é resgatado esse sentimento que muitas vezes os pacientes de mais idade “esqueceram” que tinham. É importante e benéfico ter isso até o final da vida”, garante Bautzer.

Mary diz que a Organização Mundial da Saúde – OMS considera o sexo como um estado de bem-estar, bom para melhorar a qualidade de vida e o humor, “portanto na terceira idade, ele é fundamental para a autoestima, para o paciente se sentir mais produtivo, confiante, além de ter inúmeros benefícios para a saúde”.

 

Todos os benefícios do sexo: para lembrar

Benefícios do sexo para o corpo:

  • Melhora da saúde cardiovascular;
  • fortalecimento do sistema imunológico;
  • alívio da dor;
  • melhora da qualidade do sono;
  • redução do estresse;
  • aumento da libido;
  • melhora da função respiratória;
  • fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico;
  • redução da pressão arterial;
  • aumento da flexibilidade.

Benefícios do sexo para a mente:

  • Redução da ansiedade;
  • melhora da autoestima;
  • alívio da depressão;
  • aumento da sensação de felicidade e prazer;
  • melhora da conexão emocional com o parceiro;
  • fortalecimento do vínculo afetivo;
  • redução do estresse;
  • aumento da sensação de bem-estar;
  • melhora da autoconfiança;
  • aumento da sensação de relaxamento.

Para manter a vida sexual ativa por muitos anos

O urologista Bautzer explica que a melhor estratégia para o sexo na terceira idade é a prevenção, “o paciente deve começar a se preocupar com a questão sexual mais cedo”, ensina.  “Sabemos que homens que possuem mais massa magra – ou seja, menos gordura – têm menos chances de sofrer com a queda hormonal. A ereção depende de uma boa preservação da saúde vascular, pois o sangue precisa chegar ao órgão, da saúde neurológica (estímulo) e também uma boa saúde hormonal – seja com a prevenção ou até mesmo com a reposição”, aconselha.

Para as mulheres, existe a reposição hormonal, para manter a lubrificação vaginal. Nos casos em que a reposição é contraindicada, existem alternativas como os lasers genitais.

Mas ele ressalta que é necessário fazer o acompanhamento com especialistas.

“Se o paciente fizer exercícios com frequência, prevenindo hipertensão e diabetes, por exemplo, terá uma saúde sexual melhor”, garante o médico.

Bautzer faz mais uma recomendação: “É importante manter uma vida social ativa, trocar experiências com as pessoas, se manter ativo e funcional para a sociedade. Isso também pode proporcionar o encontro de novos parceiros”.

 

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