Sobre trauma e caminhos possíveis

Quero aqui aprofundar e ampliar a percepção sobre o que pode ser um trauma

21 de julho de 2023 - às 10h00 (atualizado em 20/7/2023, às 12h10)

Jovem mulher sentada em um banco de praça, pensativa
Crédito:

Envato

Flávia Costa e Silva - colunista - Constelação Familiar

Escrito por

Flávia Costa e Silva

Socióloga e Consteladora Familiar e Sistêmica

Tradicionalmente, o trauma está associado a uma lesão produzida por uma ação externa ao corpo, uma situação pontual como um acidente, queda, queimadura, etc. Quero aqui aprofundar e ampliar a percepção sobre o que pode ser um trauma, especialmente, sobre caminhos possíveis para trabalhá-lo.

 

Nosso corpo é uma complexa reunião de sistemas (respiratório, digestório, circulatório, genital, linfático, nervoso, muscular e esquelético), que trabalham de forma integrada a todo instante. Por todos estes sistemas passam líquidos e informações garantindo que continuemos vivos. Tudo isso orquestrado por um sofisticado sistema nervoso composto de três camadas cerebrais (tronco, límbico e neocórtex), que oportunizam a transmissão da corrente elétrica para orientar os movimentos necessários em cada situação. Neste cenário fisiológico reside razão e emoção, ligados à alma e ao espírito.

 

Você pode estar se perguntando o que isso tem a ver com trauma? Então, convido você a perceber onde acontece o impacto das ações externas senão em nosso próprio corpo?! 

 

Aqui apresento a noção de trauma desenvolvida por Peter Levine (neurocientista americano), o qual constatou que trauma pode ser qualquer coisa que tenha acontecido cedo, rápido ou forte demais, cujo impacto, deixou uma energia residual não descarregada, em nosso corpo fazendo com que ocorra fixação da experiência. A ideia parece abstrata, talvez difícil, mas, você vai entender com a seguinte situação: 

 

Imagine uma criança em casa com um adulto cuidador. Essa criança brinca tranquilamente até que uma tempestade começa a se anunciar com ventos fortes, trovões e queda de luz. O adulto sai para recolher roupas e a porta se fecha, fazendo com que a criança fique sozinha no escuro com os barulhos da tempestade. Nesse momento, todo o sistema nervoso da criança reconhece uma situação de perigo – seu batimento cardíaco aumenta, sua pupila dilata, talvez ela comece a chorar ou perca a fala, enfim, diferentes sintomas fisiológicos e comportamentais se apresentam. Quando o adulto volta, a criança se encontra em pânico, precisando de uma contenção para que sua fisiologia possa descansar após toda mobilização emocional/energética. No entanto, o adulto não sabe disso e diz a criança que não era nada, que já passou, está tudo bem e a luz até já voltou, incentivando a criança a parar de chorar ou voltar a brincar.

 

A criança vai engolir o choro e todo o impacto emocional dessa experiência ficará contido em seu corpo. Conforme situações de medo forem se apresentando, a criança irá acumulando pilhas de contenção emocional e fisiológica fazendo com que ela desenvolva poucos recursos para lidar com as diferentes situações ao longo de seu desenvolvimento pelas próximas fases da vida. 

 

Esse é um pequeno exemplo de situações que, ao longo do tempo, podem gerar angústias, medos, ansiedades, pânicos, separações, quebra de confiança e desconhecimento de limites saudáveis em nossas vidas, impedindo o fortalecimento de vínculos, a expansão de boas relações e, muitas vezes, o fluxo da prosperidade em nossas vidas.

 

Vida é movimento e viver é movimentar-se. Quando entendemos que nossas sensações, sentimentos, pensamentos e padrões de comportamentos estão ligados a experiências anteriores e, não necessariamente nos definem, podemos nos mover em direção a uma nova versão de nós mesmos.

 

Enquanto a Somatic Experiencing trabalha com traumas relacionados a nossa história biográfica, a Constelação Familiar e Sistêmica acessa traumas transgeracionais. Foi a partir desses estudos e considerando minha experiência, tanto de vida, quanto formativa, que desenvolvi uma modalidade de atendimento que chamo Autobiografia.

 

A Autobiografia é uma composição de diferentes abordagens. A partir de um pedido claro, ou seja, uma situação que precisa ser transformada, trabalhamos em um percurso de oito encontros, com intervalos semanais. Cada encontro se conecta com o anterior, oportunizando que ao final do processo o cliente tenha clareza mental e emocional sobre o que envolve a mudança intencionada.

 

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